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URDIDURA

na Covilhã

URDIDURA é um ensaio fotográfico produzido por Nelson d’Aires no concelho da Covilhã durante várias viagens no mês de Outubro de 2018 e 2019 para o projecto Viagens na Minha Terra.

URDIDURA

“Há um quadro de Klee intitulado Angelus Novus. Representa um anjo que parece preparar-se para se afastar de qualquer coisa que olha fixamente. Tem os olhos esbugalhados, a boca escancarada e as asas abertas. O anjo da história tem este aspecto. Voltou o rosto para o passado. A cadeia de factos que aparece diante dos nossos olhos é para ele uma catástrofe sem fim, que incessantemente acumula ruínas sobre ruínas e lhas lança aos pés. Ele gostaria de parar para acordar os mortos e reconstituir, a partir dos seus fragmentos, aquilo que foi destruído. Mas do paraíso sopra um vendaval que se enrodilha nas suas asas, e que é tão forte que o anjo já não as consegue fechar. Este vendaval arrasta-o imparavelmente para o futuro, a que ele volta costas, enquanto o monte de ruínas à sua frente cresce até ao céu. Aquilo a que chamamos o progresso é este vendaval.”

Walter Benjamin in “O Anjo da História”.

URDIDURA

URDIDURA é um conjunto de fios que se lançam ao comprimento do tempo e que entre os quais se passa a trama da história. Um tecido feito de imagens que espero com capacidade para convocar os nossos sentidos, a nossa imaginação ou o nosso pensamento num território rico de património natural, material e imaterial.

URDIDURA é um ensaio fotográfico produzido por Nelson d’Aires no concelho da
Covilhã durante várias viagens no mês de Outubro de 2018 e 2019.

Urdidura
Unhais, Covilhã.
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Estrada da Fabrica Velha, Covilhã.
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Desfile de chocalhos na festa dos pastores, Cortes do Meio, Covilhã
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Estudante da Universidade da Beira Interior. Ribeira da Goldra, Covilhã.
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Abrigo de pastores. Penhas da Saúde, Covilhã.
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Pastor da Serra da Estrela nas Penhas da Saúde, Covilhã.
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Ruína de uma relojoareia no centro da cidade da Covilhã.
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Caloiro da Universidade da Beira Interior. Ribeira da Goldra, Covilhã.
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Caloira da Universidade da Beira Interior. Ribeira da Goldra, Covilhã.
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Minas da Panasqueira, Barroca Grande, Covilhã.
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Verdelhos, Covilhã.
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Cidade da Covilhã.
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Verdelhos, Covilhã.
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Penhas da Saúde, Covilhã.
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Penhas da Saúde, Covilhã.
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EM501, Teixoso, Covilhã.
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Vale do Beijames, Verdelhos, Covilhã.
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Verdelhos, Covilhã.
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Habitante de Verdelhos, Covilhã.
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Interior de casa em ruínas no centro da cidade da Covilhã e São Jorge da Beira, Covilhã.
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Interior de casa em ruínas no centro da cidade da Covilhã.
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Estrada da Nave de Santo António, Unhais da Serra, Covihã.
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Ribeira da Goldra, Covilhã.
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Verdelhos, Covilhã.
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Fraga do Rodeio, Penhas da Saúde, Covilhã.
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Torre, Serra da Estrela, Covilhã.
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Penhas da Saúde, Covilhã.
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Escadas de acesso à Senhora da Boa Estrela no Covão do Boi, Unhais da Serra, Covilha.
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Casal numa tarde de domingo. Verdelhos, Covilhã.
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Estudante da Universidade da Beira Interior, Covilhã.
Urdidura
N339 que liga a cidade da Covilhã à Torre da Serra da Estrela
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Torre, Serra da Estrela, Covilhã.
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Cigano. Covilhã.
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Vista do Sol a partir da Torre na Serra da Estrela
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Estudantes da Universidade da Beira Interior. Ribeira da Goldra, Covilhã.
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Verdelhos, Covilhã.
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Vale do Beijames, Verdelhos, Covilhã.
Urdidura
Vale do Beijames, Verdelhos, Covilhã.
Urdidura
N339 que liga a cidade da Covilhã à Torre da Serra da Estrela
Urdidura
Verdelhos, Covilhã.
Urdidura
Verdelhos, Covilhã.
Urdidura
Verdelhos, Covilhã.
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Minas da Panasqueira, Barroca Grande, Covilhã.

Transparências em Viagens na Minha Terra

O que pode haver de comum e diferente na forma de olhar esta realidade nossa, a Covilhã e a Serra da Estrela, de dois fotógrafos, o Augusto Brázio e o Nelson D’Aires?
De comum, bem visível no projecto “Viagens na Minha Terra”, há decerto a paixão pela fotografia, entendida como uma forma de arte, não celebratória do bonitinho e do postal ilustrado, mas introspecção pura à realidade no desafio de ver por dentro das coisas.

Esta questão prévia é afluente a todos os olhares que eles puderam fazer nos seus ensaios fotográficos, para ambos um ofício de paciência, como o Eugénio de Andrade gostava de dizer da poesia. Eles nunca se encontraram nos caminhos do território e as fotografias são questão que cada um tem consigo mesmo.
Invisíveis na paisagem, eis como eu os defino, depois de olhar as fotos, ainda em bruto, de um e de outro, em que se há alguma coisa de comum é o intimismo diferenciador que eles colocam na arte de ver as coisas.
Isso permite que elas se tornem um complexo de ideias, como se tivessem vida própria, para lá da sua própria existência, interrogando, questionando. Estaremos, porventura, uma vez mais, face àquela magistral definição de Lorca, quando ele disse que as fotografias criavam a ilusão de eternidade?

Talvez. Mas o que importa assinalar, a voo de pássaro, é o meu olhar sobre os olhares. A primeira coisa que me vem ao pensamento é que na duplicidade de olhares há talvez a convergência do desafio (inalcançável, como o de agarrarmos uma estrela!) de suspender o tempo no exacto momento em que a máquina dispara. Não se suspende o tempo, mas alcança-se, na arte final, a sua substância, o que não é pequeno milagre, para que a memória guarde o instante dessa procura de real.

Dito isto, gostaria de sublinhar, em Augusto Brázio, a densidade do seu trabalho. É como se a imagem interiormente se dissolvesse na própria névoa, captando a identidade fugidia do tempo, quando a neblina recorta as árvores e as coisas e as transfigura. Essa densidade introspectiva, esse intimismo, que também se encontram nos retratos e nas particularidades da montanha, tem na luz coada do dia ou da tarde e nas sombras elementos imprescindíveis para a aproximação ao real e para convidar o que olha, distanciado, para as fotos, a viajar pela imaginação.

Em Nelson D’Aires, encontrei o propósito fascinante de, através da fotografia, ir ao interior de micro-realidades que interrogam o contexto, os detalhes e as circunstâncias do tempo, se quisermos de sentido universalista, rompendo a certidão meramente local, como se a “alma” da interioridade fosse sempre de leitura mais vasta. Há uma casa isolada na serra, iluminada, que suscita logo uma metáfora sobre o silêncio e a solidão, quando a noite começa a descer sobre o mundo. Outras, trazem como fio condutor o rasto do esquecimento. Mas há também rostos solares, pedras de abrigo, instantes.
Afinal, o tempo talvez possa ser suspenso, como a brevidade de um raio, para a vida seguir dentro de momentos.

Fernando Paulouro Neves

Covilhã, 22 de Outubro, 2019

O “Viagens Na Minha Terra” na Covilhã faz parte da programação do Festival Y#14 e Y#15 – festival de artes performativas, construído a partir do universo temático “Cartografias-do interior para o exterior e vice-versa”. O festival Y tem direcção artística de Rui Sena e organização da Quarta Parede – Associação de Artes Performativas da Covilhã.

No dia 14 de Dezembro de 2019, Nelson d’Aires apresentou no Teatro das beiras, Covilhã, as impressões das viagens que o fizeram cruzar paisagem e pessoas, nesta sua experiência no território da Covilhã, sob a forma do livro: URDIDURA.

LIVRO

Autor: Nelson d’Aires
Design: Nelson d’Aires
Formato: 24,5cm x 34,5cm
Páginas: 58
Fotografias: 45
Papel: Munken Lynks 120g/m2
Edição: Quarta Parede – Associação de Artes Performativas da Covilhã
Tiragem total: 300 exemplares

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